17 de jun. de 2021

“Dinheiro enfraquece muito nossa autonomia”, diz liderança Yanomami

 

A primeira sessão da mesa-redonda ‘Direitos Socioambientais, Soberania Alimentar e o Presente dos Povos Tradicionais no Antropoceno’, do IV Seminário Internacional Povos Tradicionais, Fronteiras e Geopolítica na América Latina, Uma Proposta Para a Amazônia, aconteceu no dia 17 de junho, às 9h30 (horário de Manaus) e contou com a presença do Professor Dr. Helberg Chávez (Universidad Nacional de la Amazonía Peruana) de Iquitos/Peru; Armindo Góes, representante Yanomami de Maturacá, São Gabriel da Cachoeira/AM e Christiane Eveng, do Colegiado Negro do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas (PPGAS/UFAM). A coordenadora da mesa foi a Professora Dra. Maria Helena Ortolan, Chefe do Departamento de Antropologia (DAN) e Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS/UFAM), Manaus/AM.

A camaronesa Christiane Eveng contou um pouco da sua trajetória de pesquisadora no Brasil, onde vive há 10 anos. Ela iniciou seus estudos pesquisando sobre africanos em Manaus e hoje pesquisa sobre tranças de cabelo afro. Ela falou sobre a trança como empoderamento, afirmação de identidade, símbolo de resistência e ancestralidade; sobre apropriação cultural e o significado da trança em várias culturas, em diversas fases da história.

O próximo convidado a falar foi o Professor Dr. Helberg Chávez.  Ele tratou de formas de aprendizado empíricas, ou seja, baseadas na prática, na experiência e observação, e não na teoria. O pesquisador começou a pensar sobre a questão a partir de sua experiência com um líder Kandozi com quem teve contato. Para os indígenas, o aprendizado é prático, e essa é a lógica de reprodução da cultura e que domina os usos da linguagem cotidiana.

Em seguida, foi a vez do líder Yanomami Armindo Góes. Ele saudou as pessoas na língua Yanomami e contou sobre os trajetos fluvial e terrestre, de sua aldeia até a sede do município de São Gabriel da Cachoeira/AM, que durou 10 horas e meia. Com apoio do Instituto Socioambiental (ISA), Armindo conseguiu participar ao vivo do seminário. Armindo tratou sobre o que define de ‘Soberania

 

 

 

 

Alimentar Primária Yanomami Tradicional’, que, segundo ele, é muito diferente da soberania alimentar das pessoas não indígenas. O indígena explicou que, para a cultura Yanomami, a vida é coletiva e está totalmente relacionada à natureza; seus alimentos não têm proprietários e eles não lucram com a venda dos alimentos. Em relação a projetos financiados pelos não indígenas, ele reconhece que os mesmos nunca deram certo, pois não trazem conhecimento ou aprendizado para a população indígena. Sobre essa questão, afirmou: “o dinheiro enfraquece muito nossa autonomia”. No final, questionou sobre o futuro das populações indígenas.

Essa mesa-redonda está disponível em: https://bit.ly/3q3vEOM

 

O evento é uma realização do Laboratório de Estudos Panamazônicos, Práticas de Pesquisa e Intervenção Social (LEPAPIS), do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM); e pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Social (IFCHS) da UFAM, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). É gratuito e destinado a estudantes, professores, lideranças indígenas, ribeirinhas, quilombolas, representantes dos órgãos públicos, organizações não governamentais, sociedade civil interessada e se propõe a debater temas de importância crucial para a Amazônia das próximas décadas.

O IV Seminário está sendo transmitido pelo canal do LEPAPIS no YouTube: https://bit.ly/2RhzaZ1

 

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